Agora, o
tronco que escolhera estava bem menor. Deixou a madeira em um formato
quadrangular, limpava o suor que escorria por sua tenta, enquanto sua irmã
caminhava pelas redondezas.
-Não
creio nisso! – Ela exclamou distante. – Vem dar uma olhada nisso!
-Espero
que seja algo interessante, estou quase terminando aqui.
Foi rompendo várias plantas, aproximadamente à
trinta passos da irmã. Ao chegar na
origem do chamado da irmã, viu-a em pé em frente há uma grande árvore, estava
com os braços cruzados olhando o que parecia ser um altar decorado com velas e
outros artefatos.
-Mas que
diabos é isso? - Perplexo, indagou.
-Quando
você esteve fora, encontraram vários desses altares por aí. – A moça acabou por levantar o dedo indicador
até uma parte mais alta árvore, “Rita, a senhora” estava gravada na árvore por
marcas de faca.
-Rita?
Quem no fim do mundo, é Rita?
-A bruxa
do crepúsculo. Houve uma pesquisa aqui na cidade e desconfiam que ela era essa
bruxa.
-Quem
faz essas coisas? E quem era ela?
-Quem
faz isso é claramente doente. Ninguém sabe ainda. Essa tal de Rita nasceu em
1845 e morreu em 1883, nada de corpo ou família foram encontrados.
No altar haviam velas já derretidas pelo
fogo, todas perturbadas constantemente pelo vento. Dois anus negros estavam
mortos, pendurados nas raízes da árvore que emergiam do solo, havia também um
pote com uma espécie de órgão dentro. Uma folha de caderno também jazia no
altar, escrito com caneta de cor preta estava:
Bestia
Bestiam novit!
-Vamos
sair daqui, não parece que faz muito tempo que colocaram isso aqui.
-Isso,
vamos. Já estou com arrepios. – Axel cruzou os braços com a brisa gélida que
soprou pelas plantas.
Foram andando até retornarem à caminhonete.
Axel pegou a tora que havia cortado e inçou na traseira da caminhonete.
-O quão
doente é a pessoa que faz um altar para uma mulher que comia crianças? Eu não
entendo. – Clara questionava, inconformada, enquanto sentava no banco do
veículo.
Axel
entrou, fechou a porta e iniciou a máquina.
-Bestia
Bestiam novit!
-Hã? Que
isso?
-Latim,
das aulas dominicais na igreja. Significa: “Um ruim reconhece o outro.”
**
Colocara uma jaqueta jeans sobre seu casaco
verde-escuro e uma bota que acolheu sua calça, o vento ainda estava forte e
sacudia as árvores ao redor do casarão. Seguiu a trilha que cortava a floresta
mais próxima, a tal cabana estaria numa área remota. Trovões ainda rugiam.
Quanto mais longe na floresta, mais
inconfortável se sentia. A cada passo sentia-se observado, ouvia um barulho de
inseto em seu ouvido e o som de anus pelas árvores.
O vento sacudia os arbustos e árvores. Por
vezes sentiu um cansaço nas costas e uma dificuldade para respirar. Puxou o
mapa do bolso, mas sua visão começou a embaçar, decidiu então se sentar sob uma
mangueira selvagem, com alguns frutos pelos galhos, picados por aves. Abaixou a
cabeça e respirou fundo. O silêncio foi quebrado por uma voz suave.
-Perdido, meu
senhor?
Álvaro não
esperava encontrar alguém naquele lugar distante dentro da mata, assustou-se e
logo pôs-se de pé. Respiração ofegante.
-Não, eu
estou... estou... estou caminhando. – Disse ao estranho com muita dificuldade.
-Fazia tempo
que vi uma boa alma por essas bandas. O que procuras? Talvez minha ajuda seja
de bom grado.
Demorou uns
segundos antes de responder. A figura daquele homem aparecendo subitamente, o
perturbou os sentidos. Era um homem negro de chapéu, porte médio e de alguns
cabelos brancos, vestia uma camisa branca amarrotada, uma calça de trapos e botas
sujas.
Depois de muito encarar o que parecia ser um
agricultor, Álvaro cortou o transe, olhou para o solo de frutas podres pensando
a resposta.
-Não sei ao certo, meu senhor. Só caminhando por aqui.
Pareceu um belo dia pra uma caminhada.
- Belo dia? Já vi melhores. O dia tá carrancudo, céu
fechado, prefiro quando o sol brilha, gosto da quentura, do calor. Tem destino
essa tua caminhada? – O senhor acabou que por sentar no chão e, com uma faca,
começou a descascar uma manga madura. – Aceita?
-Não, obrigado. Quanto a minha caminhada, eu não sei.
-Hm, mas não está perdido, está?
- Não.
-Ah bom, oh coisa ruim de estar. Pessoas fazem
loucuras quando estão perdidas, sabe?
-Você mora por aqui? – Álvaro recuperou o susto que
levou, sentou novamente e começou a tomar a posse das perguntas. – É uma área
bem distante. É agricultor?
-Moro por aqui sim e sou agricultor, eu gosto da
tranquilidade da mata, o canto dos bichos. Quanto mais longe do barulho da
cidade, melhor pra mim. – Com a manga já descascada, o senhor separa uma fatia
e abocanha, o suco escorre por sua barba crescida, branca. – Isso na tua mão é
um mapa? Qualquer coisa posso ajudar, conheço esse buraco como ninguém.
Olhando para o
mapa por uns segundos com um certo receio daquela figura misteriosa, mas acabou
por dar-lhe, esticando-se em sua direção. A figura limpou as mãos sujas do
caldo da manga em sua calça e apanhou o mapa, deixando a faca e a manga em cima
de uma bolsa plástica. Ele analisou o mapa, olhou para Álvaro e voltou a
analisar. Álvaro desvia o olhar do senhor.
-Parte bem distante em? Tinha uma cabana nessa parte
circulada, vi quando era moço, mas a mata tomou conta. Então tens um destino,
não tão perdido assim. O que procuras lá? – Esticando-se o senhor entregou o
mapa a Álvaro, que hesitou em responder.
- Apenas por curiosidade, encontrei isso em uns livros.
-Hm, pois cuidado com a curiosidade, meu caro, o lugar
é uma ruina, adentro na mata. É um lugar estranho, sombrio, existem lendas
daquele lugar.
-Não temo lendas, no final são histórias inventadas.
-Histórias afundadas pela mentira, talvez seja diferente.
Vejo que está determinado a chegar lá. Pode ser um caminho sem volta, caminho
de espinhos, Álvaro. – Álvaro sente um desconforto e uma pontada no lado
direito do tórax. - Abyssus abyssum invocat.
- O que disse? Como sabe meu nome? – Álvaro acaba por
se levantar e bate a cabeça em um galho da mangueira.
- “Um abismo atrai o outro”, meu velho me dizia isso
às vezes. Quanto a seu nome, conheço sua família. Sei da dor que sente, não
cause mais dor em si. Seu tataravô era um homem triste, destruído pelo conhecimento
e o amor. O livro é um poço sem fim.
-Então o livro é real? Que mistérios são esses?
- Não posso te contar, na verdade, nem eu sei. – O
homem se levantou, apanhou a faca e a manga colocando-os na bolsa plástica e
foi andando na direção a que Álvaro veio. – Só sei da dor que esse mistério
pode causar. Cuidado com o que busca.
Álvaro estava
confuso e cheio de interrogações, ainda passava a mão pela cabeça por causa da
batida no galho, a figura havia sumido. Aos poucos, algumas gotículas de chuvas
caíram pela mata, o som ecoou pelas direções, era apenas um chuvisco. Perante a
mangueira, poucas gotas o atingiram. Sentou novamente com as mãos e a cabeças
no joelho. Ali ficou, ouvindo distantes trovões e o som do chuvisco.
Com o tempo os
sons começaram ecoaram distantes. E mais distantes. Sentiu um alívio nas costas
e leveza nos pés, seus olhos, pesados, fecharam-se. Nada pode ouvir. Sem
trovões, sem vento. Parecia estar dormindo, mas estava totalmente lúcido. Sua
respiração aumentou de frequência, embora não teve a força de levantar o olhar.
-Você está bem, meu moço? – Uma doce voz quebrou o
silêncio
Lentamente
Álvaro foi olhando sobre seus joelhos, a luz do sol feriu sua visão e o
surpreendeu, acabou por se levantar bruscamente e se deparar com uma figura
belíssima e familiar. Era a mesma mulher de seu sonho anterior, com a mesma
beleza e um vestido branco ainda mais radiante.
-Quem... quem é você? – Ainda ofegante do susto, o
moço tentou balbuciar as poucas palavras que surgiram em sua mente.
-Você não precisa saber quem eu sou. – A mulher falava
com um encantador sorriso no rosto. – Você só precisa me ouvir. Sinto a dor que
você está sentindo, sei quanto amava seu menino e por isso quero lhe mostrar
algo.
A moça esticou
sua mão em direção a Álvaro, ele hesitou, afastando para trás até encontrar o
tronco da mangueira.
-Sei que está confuso, mas não precisa temer.
Depois de pensar por uns segundos, ele também estendeu
a mão para aquela mulher. Ela caminhou em direção à uma trilha da qual ele não havia
percebido. Só a acompanhou. Olhou para o céu, estava limpo, apenas com algumas
nuvens em flocos. Foram caminhando até um rio, aparentava ser profundo. Pararam
na margem.
-Que lugar é esse?
-Escute-me, seu menino está em um lugar escuro e
sombrio, você precisa ajudá-lo.
- Meu filho? Meu Miguel?
A figura então
apontou para o rio.
-Olhe na água.
Se aproximando lentamente, ele olhou nas águas negras
daquele rio. Aos poucos ele viu a figura de seu filho vestido de branco, as
mãos sobre o peito e uma rosa vermelha murcha entre seus dedos. O menino
parecia estar dormindo, mas lágrimas escorriam pelo seu rosto.
-Miguel!! – Álvaro gritou e lançou-se para a água, mas
a figura o puxou.
-Não vai ajudá-lo assim. Ele está sozinho, com frio e
pode ficar assim para sempre. Não deixe que isso aconteça também com ele.
-O que eu posso fazer? Me diga, eu faço qualquer
coisa, qualquer coisa pra tê-lo de volta.
-Você terá que seguir o mapa até o destino, precisa
encontrar o livro.
-Então isso é real? Onde estou? Como você sabe de tudo
isso?
-Não há tempo para perguntas, se apresse, antes que
seja tarde. Mas cuidado, o lugar é guardado por uma fera, um cão. Sua tataravó
o pôs lá, matará a qualquer um que encontrar perto do livro.
Então toda a
floresta começou a se dissolver em um clarão, o sol cresceu pelo céu e tudo se
fez claro... até voltar a escuridão. Aos poucos veio uma luz fraca e oscilante.
Sua visão começara a focar novamente e viu seu reflexo em um manto de ondas.
Eram as águas de um rio, a superfície perturbada pelo vento. Recuperando os
sentidos, ele se levantou e percebeu estar em uma diferente localidade. O mapa
estava no chão, com duas pedras nas extremidades.
-Céus! Estou enlouquecendo? HEIN!!! – Ele gritou, sua
voz ecoou pelas redondezas.
Refletiu as palavras daquela figura e apanhou o mapa.
Percebeu que seguindo o rio, chegaria ao destino. Mas não seria fácil. Depois
da clareira, na qual estava, havia uma área mais densa de árvores e mato.
Contudo, aquilo não era suficiente para parar aquele homem, não depois do que
viu naquele rio, depois da visão de seu filho. E assim foi indo sempre mantando
contato visual com o rio e desbravando o matagal que crescia.
Foi afastando
as trepadeiras e os arbustos que surgiam em sua frente até que, subitamente, o
matagal pareceu padecer e desaparecer. Caminhou até uma área totalmente
descampada e lá avistou uma cabana feita de madeira e barro, coberta por ramas
mortas e espinhos.
A área era mais
fria que o ambiente, nenhuma grama crescia ao redor da cabana, apenas grandes
árvores mortas despontavam por trás da estrutura. O visual era bizarro. Hesitou
de primeira, mas puxou uma coragem de continuar. Deu um passo dentro daquele
círculo morto.
-Veja que você não me ouviu. – Uma voz familiar soou atrás
dele.
-Você! Você mentiu pra mim, hein?
-Existem coisas que são melhores desconhecidas. Menti
pra te proteger, meu rapaz.
-Não preciso que me proteja, sou adulto e posso cuidar
de mim, não tenho medo. Não tenho nada a perder, o que eu tinha já se foi.
Agora eu quero de volta.
-Não vá atrás de falsos conselhos, você sabe que isso
não é natural, vai contra todas as leis.
-Então é possível? Trazê-lo de volta, é possível? Vou
até o inferno até conseguir isso.
Álvaro então
apressou os passos em direção à cabana.
-Eu não posso te ajudar a partir desse ponto. Não
deixe seu abismo atrair um mal ainda maior! Não deixe que esse abismo te
consoma!
Aquele pai
desesperado ignorou os conselhos e foi correndo. Havia uma porta, totalmente
acaba e corroída, com dois chutes veio a baixo. Com a jaqueta, Álvaro protegeu
o nariz de um forte odor de podridão. A visibilidade era baixa, espinhos e
ramas caíam do telhado, destruído por grandes galhos de árvores que caíram e
estavam pelo chão. No final do cômodo havia um armário, perfeitamente
preservado, com uma cor vibrante, de madeira viva. Sua respiração aumenta de
frequência ao cada passo, os galhos no chão estrelavam como trovões a serem
pisados. Passo por passo ele foi continuando lentamente, suas costas começaram
a pesar e sentiu um desconforto estomacal. Seu coração foi aos pés, quando a
solo em frente ao armário começou a se movimentar. Ele deu um passo para trás e
paralisou em medo. Ele podia ouvir o vento rugindo nas árvores lá fora e um
relâmpago clareou a escuridão daquele céu. A medida que o solo estremecia,
Álvaro foi dando passos travados para trás. Sem perceber, ele tropeçou em um
dos grandes galhos que despontavam por ali e acabou caindo. Uma massa
esquelética tentava se erguer, rasgando a terra, o focinho da coisa emergia,
assim como depois a cabeça e parte do torso.
Rapidamente, o moço foi se arrastando para a saída,
porém, mais uma vez foi paralisado pelo medo ao ver uma figura negra emergindo
do solo. Cuidadosamente e lentamente, Álvaro foi se levantando. A figura foi
andando em passos lentos. Se revelava à medida que caminhava em direção a luz. Era
uma espécie de cão esquelético, com toda sua pele e músculos misturados a terra
e raízes, um olho estava destruído, enquanto o outro ainda estava intacto, um
cheiro pavoroso vinha de sua direção. Distante de Álvaro por dez passos, a
criatura parou. Emitia um rosnado infernal e apavorante, mostrava seus dentes
pobres e afiados em sinal de ameaça. Álvaro tremia, não sabia a ação que tomar.
Estava gélido e petrificado como uma estátua. Subitamente sua mente emitiu um
comando a suas pernas e seu corpo, era hora de correr. Imediatamente virou as
costas para aquele cão e começou a correr para a saída, correu como nunca havia
corrido na vida, pôde ouvir a coisa correndo em sua direção.
Os rosnados que
podia ouvir de trás de sua nuca, lhe causava arrepios. Nunca tentativa que
parar a criatura, puxou a porta e segurou. Seu corpo todo tremia, seu coração
parecia desprender-se de seu peito. Apoiou a cabeça na porta, a criatura ainda
rosnava lá dentro, mas o rosnado foi se afastando. Nesse momento percebeu que
devia correr o mais rápido possível dali. Largou a porta e correu
desesperadamente.
“Se eu entrar nesse matagal, isso me pega!”, enquanto
pensou, freou e olhou nas direções. A criatura ainda não havia saído da cabana.
Com isso, ele pôde respirar um pouco e tentar pensar.
O rio corria em frente ao matagal e ao círculo morto,
havia algumas árvores maiores fora da zona morta. Seu raciocínio foi
interrompido pelo cachorro que com um pulo derrubou aquela porta frágil. Ao ver
Álvaro, a criatura uivou. Com o uivo estridente, Ele não tinha uma outra opção
senão correr para uma grande árvore na margem do rio. E correu, passou em
frente da cabana em disparado, a criatura se ouriçou e também correu em sua
direção. Com a adrenalina, ele logo agarrou um galho firme e começou a escalar
a árvore como um relâmpago, galho por galho. Ele escalou até um ponto alto da
árvore, podia ver a criatura furiosa.
Ele pôde
respirar um pouco, quase não sentia suas pernas. Sua cabeça ainda zonza tentava
pensar no que fazer dali para frente. Fechou os olhos e respirou. Fez-se
silêncio, rapidamente abriu os olhos novamente, viu o cão se esticando e
tomando distância.
-Não...Não. Não é possível!
A criatura ainda mostrava uma expressão ameaçadora e
exibia seus dentes. O olhar vermelho em chamas. Logo pulou e agarrou na árvore
com suas garras, subia rapidamente e com voracidade. Não havia para onde
correr, a única saída acabou virando uma armadilha mortal. Álvaro continuou no
mesmo galho e se equilibrando, foi em direção à área mais fina. Se agarrou em
outros galhos menores acima de sua cabeça, se jogar no rio podia ser sua
salvação. A criatura ainda subia sem descanso, as garras fincadas com força
contra o trono.
-Vem me pegar, seu demônio. – Ele esperou a criatura
emergir no galho em que estava. O visual e os sons emitidos pelo cão, eram de
causar calafrios, o olhar era perturbador. A medida que a criatura ia andando,
lentamente se equilibrando pelo galho mais grosso, Álvaro dava um passo para
traz. Esperava o momento perfeito para pular, os olhos vidrados nos olhos da
criatura. Uma sintonia macabra, olhos e respiração alinhados. Seu coração foi
aos pés, quando chegou na área mais frágil do galho. A criatura se ouriçou
novamente, se esticou e rosnou. Era hora! Soltando levemente seus braços
ardentes dos galhos acima, se desequilibrou e se jogou para trás. A criatura,
sem pensar, também se jogou com um grito estridente, o saco de ossos e terra
pulou em direção ao rio.
Na cabeça dele,
o mundo girou. Pôde ver aquela besta infernal caindo no ar, em sua direção,
quase que em câmera lenta. Seus sentidos só voltaram com o choque contra a água
gélida do rio. Caiu, afundou e, logo, emergiu. Recuperando as forças nadou o
mais depressa possível. O desespero lhe bateu quando ouviu a criatura se
chocando contra a água.
“Se isso nadar, estou perdido”, pensou. Tinha certeza
que estaria morto depois de nadar. Não teria forças para continuar correndo. E
nadou. O mais rápido que conseguia. A água do rio não era forte, quando sentiu
a areia, pulou em direção à margem. Ao chegar no solo, se virou para o rio.
A criatura
lutava para emergir, com muito esforço e soltava grunhidos de dor e desespero,
mas acabou sucumbindo e afundando no rio. Seu esqueleto perdeu as forças e caiu
para a morte. Se é que aquilo estava vivo.
Álvaro se aliviou quando aquelas águas turvas se
aquietavam e as bolhas paravam de emergir. Com o corpo pesado de cansaço,
desmoronou no solo da margem daquele rio. Com os dois braços esticados, tentava
recuperar suas forças. Ainda ouvia os trovões distantes ecoando e as ondas
pluviais formigando nas suas pernas.